Abraçando o ordinário

[…] é na chatice do dia a dia, em que nada grandioso demais acontece, onde não somos observados por ninguém além do próprio Deus, que somos então verdadeiramente formados.

Vivemos uma vida agitada: trabalho, estudos, família, amigos, igreja. Uma semana muitas vezes lotada e estressante. Acordamos cedo, fazemos nossas refeições correndo, trocamos palavras soltas com aqueles que moram conosco, gastamos o tempo livre rolando o feed do Instagram ou Facebook, depois disso vamos dormir, e logo o ciclo se inicia novamente.

Você já parou para refletir sobre sua rotina? Ou ainda, você já se perguntou de que modo Deus está incluído nela? Experimente tirar alguns minutos hoje, seja agora ou quando estiver deitado(a) em sua cama; reviva os momentos do seu dia e reflita de que modo todas essas coisas que você fez glorificaram o nome de Deus.

Há alguns dias tenho pensado sobre isso: a dificuldade que temos – ou pelo menos eu tenho-, de incluir e encontrar o Senhor em todas as coisas chatas e entediantes que faço durante o dia.

Por que é tão fácil ouvir Sua voz no culto de domingo, mas tão difícil quando acordo na terça-feira chuvosa, atrasada para pegar o trem?

Li um livro há alguns dias atrás intitulado “Liturgia do Ordinário”, da autora Tish Warren, e uma frase impactou muito minha vida: “o cerne de nossa formação está na monotonia anônima de nossas rotinas diárias”. Em outras palavras, é na chatice do dia a dia, em que nada grandioso demais acontece, onde não somos observados por ninguém além do próprio Deus, que somos então verdadeiramente formados.

É, também, neste mesmo lugar, que efetivamente aprendemos a viver com o Senhor. Uma vida com Deus, um relacionamento profundo, real e vulnerável com Ele, só pode ser construído se para isso nos empenharmos e desejarmos verdadeiramente. É necessário, portanto, que haja disciplina, constância, tempo, silêncio e paciência.

Quer uma maneira melhor de exercitar todos esses requisitos do que na repetitividade que a rotina nos impõe? O grande ponto em toda essa reflexão, é que precisamos achar Graça no ordinário. Precisamos gastar mais tempo tentando encontrar Deus em nossas tarefas diárias, tentando aproveitar nossos minutos de silêncio e calma ouvindo Sua voz, mais do que os usamos para navegar em nossas redes sociais, ou ouvir o álbum novo daquela banda que gostamos.

Jamais seremos capazes de realmente glorificar a Deus quando chegarmos cansados em casa numa quarta à noite, a não ser que consigamos parar por alguns segundos e meditar na importância de termos um chuveiro para tomar um banho quente. Existe algo muito lindo e sobrenatural nos cultos do fim de semana, ou nas vigílias de sexta à noite, quando podemos chorar, orar por outros irmãos e sentir de forma quase física o cristianismo que costumamos professar.

Contudo, há uma profundidade e um grande mistério na ordinariedade dos dias, onde somos confrontados a entender cada vez mais sobre silêncio, tempo, e vulnerabilidade.

Portanto, meu convite é que estejamos dispostos a viver os dias da forma como eles são, tentando encontrar o Senhor em cada tarefa simples que somos acostumados a realizar. Desta forma, não só falaremos de cristianismo, mas o viveremos de uma forma tão real, que ele poderá ser visto por todos aqueles que estão a nossa volta.